O meio-campista vem enfrentando problemas para apresentar sua verdadeira magia na Euro 2024
A Inglaterra começou com uma vitória na Eurocopa sobre a Sérvia e empatou seu segundo jogo com a Dinamarca, mas houve um sentimento geral de decepção após os jogos, com foco em Phil Foden. Não estamos falando da vitória ou do empate, mas sim de quando a Inglaterra derrotou a Croácia na última edição da Euro.
A exibição discreta e, por vezes, descuidada de Foden foi um dos principais pontos de discussão em Gelsenkirchen, depois de ele ter sido destacado como um dos jogadores para se observar na Euro 2024 após uma temporada brilhante com o Manchester City. Foi uma história semelhante após a vitória pouco convincente da Inglaterra por 1 a 0 sobre a Croácia no Wembley três anos atrás, quando Foden acertou a trave antes de ser substituído por Gareth Southgate.
O meia também havia sido apontado para brilhar naquele torneio após marcar nove gols e dar cinco assistências pelo City na temporada anterior, mas ele fez apenas três aparições na campanha da Inglaterra até a final.
As circunstâncias eram diferentes naquela época em comparação com agora, mas o resultado foi o mesmo: Foden decepcionando no cenário de seleções apesar de uma temporada impressionante com o clube. Então, por que ele não consegue fazer para Southgate o que vem fazendo para Pep Guardiola há anos? E será que o treinador catalão é o culpado?
Queda significativa
Foden não mostrando um bom futebol quando veste a camisa da Inglaterra não é novidade. Ele jogou 35 partidas desde que fez sua estreia pela seleção em 2020, marcando quatro gols e dando oito assistências. Isso é uma média de 0,34 participações em gols por jogo. Em contrapartida, ele jogou 270 partidas pelo City e contribuiu para 140 gols, uma média de 0,52 por partida. E na última temporada, ele contribuiu para 39 gols em 54 jogos, uma média de 0,72.
Mesmo considerando a grande diferença na qualidade entre o City e a Inglaterra e o abismo na habilidade dos treinamentos entre Guardiola e Southgate, é uma queda significativa. Especialmente quando colocamos os números de Foden ao lado dos de seus companheiros de meio de campo no City, que tendem a replicar a forma do clube a nível de seleções.
Kevin De Bruyne tem uma média de 0,75 participações em gols por jogo pela Bélgica em comparação com 0,71 pelo City; a média de Bernardo Silva é 0,44 por Portugal e 0,37 pelo City; a de Rodri é 0,1 pela Espanha e 0,22 pelo City; a média de Erling Haaland é 1,1 tanto pela Noruega quanto pelo City; a média de Jack Grealish pela Inglaterra é 0,28, enquanto pelo City é 0,26.
Julian Álvarez tem 0,52 pelo City, mas 0,25 pela Argentina, também uma grande queda, com a importante ressalva de que ele brilhou na Copa do Mundo de 2022 e foi o segundo maior artilheiro de sua equipe, atrás apenas de Lionel Messi.
Os ex-companheiros de equipe de Foden no City também tiveram trajetórias semelhantes no clube e pelo país. A média de Ilkay Gundogan pelo City era 0,32, enquanto pela Alemanha é 0,33. A de Raheem Sterling era 0,6 pelo City, apenas ligeiramente superior a 0,57 pela Inglaterra.
Dificuldades pelas laterais
Muito se fala sobre o fato de que Foden tende a jogar na meia esquerda pela Inglaterra, enquanto na última temporada pelo City ele desfrutou de mais liberdade, atuando como um camisa 10 quando De Bruyne estava indisponível ou jogando pela direita. Em várias partidas, ele também começou na esquerda, posição que costumava jogar em suas primeiras quatro temporadas após ingressar no time principal.
De fato, Southgate deu uma resposta sarcástica quando perguntado no ano passado o motivo de que não jogava com Foden centralizado pela Inglaterra. "Ele não joga assim no seu clube, então presumivelmente há uma razão para isso", disse ele. "Depende muito do nível do jogo. Você teria que falar com Pep Guardiola, o melhor treinador do mundo, que o joga pelas laterais."
A grande diferença entre o City e a Inglaterra, no entanto, é que Guardiola incentiva seus jogadores a se movimentarem por todo o campo e a rotacionarem com seus companheiros, confundindo a oposição e abrindo mais espaço uns para os outros. As posições são muito mais rígidas na equipe de Southgate, mesmo que o técnico não goste de admitir isso.
Sem liberdade
Southgate disse um mês antes do torneio: "A chave com Phil é onde ele termina, não sua posição inicial." Ele acrescentou: "É onde esses jogadores chegam e onde eles têm permissão para se deslocar. Nós nunca prendemos esses atacantes na linha lateral. Há essa liberdade."
Mas essa liberdade não foi exibida em Gelsenkirchen e nem em Frankfurt. Com Luke Shaw ainda sem condições e Kieran Trippier forçado a jogar como lateral-esquerdo com sua perna ruim, a Inglaterra fez quase todo o seu ataque pelo lado direito.
Bukayo Saka ficou mais por ali, enquanto Kyle Walker, que é incentivado a entrar mais no meio de campo no City, ficou próximo atrás dele, dobrando a ameaça da Inglaterra por aquele lado.
Essa combinação proporcionou o único gol do jogo para Jude Bellingham, mas também significou que Foden não conseguiu entrar no espaço onde ele mais se destaca, saindo da direita e cortando para seu letal pé esquerdo.
A ausência de Shaw
Dos 27 gols que Foden marcou em todas as competições na última temporada pelo City, apenas três vieram atacando pela esquerda. Dez vieram atacando pela direita, com 13 vindo de ataques pelo meio ou chegando ao meio da área. Não é surpreendente, portanto, que ele não tenha conseguido causar tanto perigo atuando em uma área diferente.
A capacidade de Foden de se deslocar para dentro foi ainda mais reduzida devido à falta de apoio de Trippier, que não conseguiu avançar com a mesma regularidade que Josko Gvardiol fez pelo City em seu espetacular final de temporada.
A ausência de Shaw, o único lateral-esquerdo natural na equipe que Southgate levou para a Alemanha, afetou gravemente Foden, e o defensor do Manchester United também não jogou contra a Dinamarca na última quinta-feira, o que não foi bom para o inglês.
Bolas longas não estão ajudando
Havia outro fator contra Foden: a tendência de Jordan Pickford de lançar a bola para frente sempre que a pegava. A tática já gerou gols anteriormente, mas contra a Sérvia e Dinamarca resultou na Inglaterra entregando a bola e depois precisando trabalhar duro para recuperá-la, ao invés de jogar a partir de trás, como Foden está acostumado a fazer com Ederson ou Stefan Ortega no City.
Com Marc Guehi e John Stones, a Inglaterra tem dois zagueiros que têm a habilidade e a confiança para jogar a bola para o meio de campo. O jogo de passes curtos é onde Foden prospera, pois ele sabe que tipo de passe esperar e pode pensar várias jogadas à frente.
Muito isolado
Micah Richards, ex-defensor do Manchester City, ficou consternado ao assistir Foden enfrentar dificuldades contra a Sérvia e pediu a Southgate que o coloque centralizado contra a Dinamarca, em vez de persistir em colocá-lo na esquerda. No entanto, não foi atendido e ele seguiu jogando aberto na segunda partida.
"Não funciona. Funciona no City se ele joga pela direita ou esquerda ou como o camisa 10 por causa da rotação, você sabe como Pep monta seus times. Eu só acho que não há o suficiente disso e ele fica isolado. Eu realmente senti por ele. O jogo dele é isolado", disse Richards no podcast 'The Rest Is Football' com Gary Lineker.
"Com Foden é tão desanimador ver um jogador daquela qualidade sendo colocado fora de posição. Com a bola, ele estava se movendo para a posição de camisa 10, mas ainda tinha que pressionar pela esquerda, e quando ele pegava a bola estava lento, não tinha o um-dois. Ele é melhor recebendo a bola de costas para o gol. Coloque Bellingham mais recuado ao lado de [Declan] Rice e jogue Foden como camisa 10."
Lineker acrescentou: "Foden está entre a cruz e a espada. Ele começa naquela posição, mas é dito que pode entrar por dentro vindo de uma posição ampla, mas isso é diferente de começar no centro e poder flutuar para qualquer lado. Eu não acho que isso se ajuste a ele na esquerda, ele é melhor na direita, mas Saka joga na direita."
Precisa fazer por merecer
Foden tem poucas perspectivas de substituir Saka ou Bellingham, pois foram alguns dos melhores jogadores da Inglaterra contra a Sérvia e Dinamarca. E vale dizer que ele foi escalado como camisa 10 no amistoso contra a Islândia, enquanto Bellingham estava ausente e Saka começou no banco e também teve uma má atuação.
Saka e Bellingham também não têm problema em brilhar quando vestem a camisa da Inglaterra. O primeiro contribuiu para 19 gols pela Inglaterra no mesmo número de jogos que Foden, enquanto o segundo teve nove participações em gols em 30 partidas e é o líder da equipe de Southgate de fato. Enquanto Foden conquistou totalmente seu status no City, ele ainda tem um caminho a percorrer antes de poder ditar o ritmo da Inglaterra.
"Um jogador dessa classe, desse nível, desse talento, nem precisa que o treinador lhe diga o que fazer", disse Cesc Fabregas na cobertura da BBC do jogo de abertura da Inglaterra. "Ele precisa querer mais do que os outros e para mim hoje mostrou que Jude está um pouco à frente dele neste aspecto."
Nos muitos debates sobre Foden após os dois primeiros jogos, um fator crucial tendeu a ser ignorado: a Inglaterra não perdeu. Por enquanto, ele precisa aceitar a posição que tem e se adaptar a ela. Pouco importa que ele tenha sido o jogador da temporada na Premier League; este é o futebol pela seleção inglesa e ele ainda precisa fazer por merecer.
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