A ascensão de Riccardo Calafiori na Itália: lesão que ameaçou carreira, comparações com Maldini, gol contra e jogada salvadora contra a Croácia

Seis anos depois de sofrer uma lesão grave, o elegante zagueiro está estreando em competições pela Azzurri, na Alemanha, nesta Euro 2024

Aos 16 anos, Riccardo Calafiori assinou seu primeiro contrato profissional com a Roma, mas viu sua carreira ameaçada após sofrer uma lesão grave em um jogo da UEFA Youth League contra o Viktoria Plzen.

Uma entrada desleal deixou seu joelho direito tão inchado, que ficou três vezes maior que o esquerdo. Especialistas ficaram chocados ao constatar que todos os ligamentos estavam rompidos, além do menisco e da cápsula articular. Calafiori, mesmo jovem, reagiu como se fosse convocado a uma guerra: "É hora de mostrar tudo o que tenho dentro de mim. Esta é a batalha mais importante da minha vida".

"Uma grave lesão no joelho me manterá afastado por um longo período e longe do campo, mas o desejo de voltar MAIS FORTE do que antes aumentará a cada dia. Mais uma vez me vejo diante de um desafio muito difícil, mas, como sempre, vou vencer!!!"

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Caminho para a recuperação

Calafiori ficou fora por 347 dias antes de retornar em um jogo pela equipe de base da Roma, no início da temporada 2019/20. Havia dúvidas se ele ainda seria o mesmo jogador após enfrentar o "desafio mais difícil" de sua vida.

Antes da lesão, Calafiori era altamente valorizado na Roma, com o próprio elenco principal reconhecendo seu talento. Após marcar no jogo da Champions League contra o Plzen, logo após sua ida ao hospital, Edin Dzeko segurou uma camisa com o nome e número do jovem.

Dois anos e meio depois, o lateral-esquerdo deu a assistência para Edin Dzeko marcar o gol crucial que levou a Roma às semifinais da Europa League, empatando em 1 a 1 com o Ajax no Estádio Olímpico.

Descartado por Mourinho

Na época, os torcedores da Roma viam Calafiori como um potencial ídolo do clube, à semelhança de Francesco Totti e Daniele De Rossi - um jovem da região destinado a se tornar uma lenda dos Giallorossi.

Paulo Fonseca, então treinador da Roma, foi cauteloso com as expectativas, enfatizando que Calafiori precisava de "tempo para crescer" sem pressão excessiva. Com a saída de Fonseca em 2021 e a chegada de José Mourinho, conhecido por seu péssimo histórico em desenvolver jovens talentos, Calafiori foi emprestado ao Genoa apenas três meses depois.

Ao fim da temporada 2021/2022, ele foi vendido ao Basel, da Suíça, por 2,6 milhões de euros (R$ 15 milhões), encerrando sua passagem pela Roma.

Os arrependimentos da Roma

De Rossi recentemente admitiu que ainda acha difícil engolir a forma como Calafiori saiu do clube. Após retornar à Roma como treinador, em janeiro deste ano, sucedendo Mourinho, ele permanece indignado por terem permitido que um jogador tão promissor saísse do clube por uma quantia tão baixa, sem cláusula de recompra ou algum percentual em uma futura venda.

O treinador reconhece que Calafiori não estava pronto para se tornar titular na época, mas sentia que seu potencial era evidente. Mais frustrante ainda, para o ex-meio-campista da Itália, é que ele sempre viu Calafiori com potencial para se tornar um excelente zagueiro - exatamente o que ele se tornou, em grande parte graças a um dos ex-colegas de seleção de De Rossi, Thiago Motta.

De Basel para Bolonha

Calafiori não queria deixar a Roma, mas sentiu que não tinha escolha. "Joguei um pouco com Mourinho na Roma, mas queria mais minutos em campo, então fui para o Genoa, onde as coisas não deram certo", disse recentemente. "Não encontrei espaço lá também, então escolhi o Basel.

"No começo, estava hesitante. Quase me senti obrigado a sair para buscar mais minutos. Mas logo mudei de ideia. O Basel oferecia tudo o que um jovem precisa para se desenvolver. Fiz 30 jogos pela primeira vez, o que foi fundamental para meu crescimento."

Sob o comando de Heiko Vogel no Basel, Calafiori passou a ter mais oportunidades como zagueiro central. O Bologna o contratou por 4 milhões de euros (R$ 23,3 milhões) após sua única temporada na Suíça. Motta, convencido de seu potencial, acreditou que Calafiori poderia brilhar em seu 4-3-3, permanentemente como um meia.

Diferentemente da Roma, o Basel incluiu uma cláusula de 40% sobre futuras vendas, o que pode render um grande lucro em breve, especialmente após sua grande campanha na Euro 2024 pela Itália.

Sucessor de Stones no Manchester City?

Calafiori teve uma temporada excepcional em 2023/24 pelo Bologna, ajudando o clube a surpreender o mundo ao se classificar para a Champions League com um quinto lugar na Série A italiana.

Sua capacidade de leitura de jogo e habilidade com a bola impressionaram, e foram cruciais para resultar na convoação por Luciano Spalletti para a Euro 2024. Spalletti ficou especialmente impressionado com sua versatilidade, chegando a utilizá-lo como meia-armador em um treino da Itália.

Calafiori encerrou a temporada com cinco assistências e demonstrou talento não só defensivamente, mas também na criação de jogadas. Após uma atuação destacada contra a Juventus, foi comparado a Paolo Maldini por Riccardo Orsolini e elogiado por Fabrizio Ravanelli como uma potencial contratação valiosa para o estilo de jogo de Pep Guardiola no Manchester City (um substituto perfeito para John Stones).

Evocando ídolos

Apesar de o Bologna querer manter Calafiori, os rumores de transferência podem aumentar se ele continuar impressionando na Euro 2024, como contra a Albânia - sua terceira partida pela Itália e segunda como titular - e Croácia. Após marcar um gol contra na derrota para a Espanha, o jovem defensor silenciou seus críticos com uma performance heroica no último minuto da partida contra a Croácia.

Com a Itália precisando de um empate para se classificar ao mata-mata da Euro 2024, Calafiori lembrou os tempos de Maldini, Alessandro Nesta e Fabio Cannavaro na defesa italiana, jogando com a mesma classe e calma, aparentemente natural, que eles demonstravam. Ele conduziu o ataque com classe e visão de jogo, culminando em uma assistência magistral para o gol de empate de Zaccagni.

"Eu apenas tento jogar como no clube e não penso no resto", disse à Sky Sport Italia. "Eu me concentro apenas em sensações positivas, como minha família nas arquibancadas ou amigos assistindo em casa pela televisão. E acho que me saí muito bem."

Certamente não há dúvidas quanto a isso. O garoto que há seis anos temia pelo fim de sua carreira agora é um homem com um futuro brilhante pela frente.